Introdução
Os africanos, antes do contacto com os europeus já reconheciam a existência de um Deus Supremo, este criador de todas as coisas e protector de todos os seres. Mas os europeus consideraram estas igrejas indígenas e de carácter profano.
Para compreendermos as religiões tradicionais em África particularmente Angola, deve-se entender o conceito de religião.
Religião pode ser entendida como um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas, baseadas em livros sagrados, que unem seus seguidores numa mesma comunidade moral, chamada Igreja.
Religiões Tradicionais Africanas refere-se à todas manifestações culturais, religiosas e espirituais no continente africano.
As religiões tradicionais africanas envolvem ensinamentos, práticas e rituais, e visam compreender o divino. Mesmo dentro de uma mesma comunidade, pode haver pequenas diferenças de percepção do sobrenatural.
As religiões tradicionais africanas não sofreram grandes alterações, mesmo com a adopção das recentes ou actuais (Cristianismo, Islamismo, Judaísmo) no continente.
As religiões tradicioanais africanas carregam consigo algumas características das religiões do grupo do Panteísmo1. Estão espalhadas por todo continente e são praticadas a nível familiar, clã, etnia e até em nível de estados.
As religiões africanas devem ser analisadas sem preconceito, porque muito longe de formarem um apanhado de superstições, as noções religiosas do continente africano relacionam-se directamente com factos sociais e com a exploração dos recursos naturais, fundamentais para a permanência do mundo tradicional. Por exemplo o solo, para a maioria dos povos africanos, era entendido como um bem colectivo, assim devendo permanecer por constituir herança dos espíritos ancestrais.
No geral, a aldeia africana mantém uma intensa relação com o meio natural circundante, do qual retira a totalidade dos elementos necessários para a sua vida. A religiosidade encontra expressão em marcas apropriadas directamente da natureza, como é o caso dos baobás, entendidos como morada dos deuses e dos espíritos. Em muitas regiões do continente africano, o baobá é assumido como a árvore da aldeia, sendo honrado pelos rituais sagrados. A Religião Tradicional Africana contém elementos de cada uma das denominações apontadas, mas nenhuma delas esgota nem explica satisfatoriamente o seu conteúdo.
Embora as manifestações desta Religião Tradicional e algumas crenças variem de zona cultural a outra e até de um grupo a outro, pode falar-se com exactidão de «Religião Tradicional Africana». A unidade das crenças, o substrato fundamental, o significado e finalidade dos cultos, ritos e símbolos e a homogeneidade das aspirações mostram-se idênticos em toda a África Negra. Os seus traços essenciais são comuns e os acidentes não rompem a unidade básica. A África Negra conserva uma religião que recebeu dos seus antepassados, como factor decisivo da sua cultura. É um dado original e específico destes povos.
As religiões Tradicionais e a História
Á chegada dos europeus a África, as religiões tradicionais africanas encontravam-se presentes em todas as esferas da sociedade, sobretudo naquelas ligadas ao poder político. Quem quisesse derrubar um reino, teria que baptizar primeiro o rei ou o profeta.
Foi esta a arma utilizada pelos europeus. Assim, o primeiro passo da dominação dos africanos foi o ataque aos profetas e o baptismo dos reis: a cruz de cristo à frente da espada.
Em seguida, as divindades africanas foram erradicadas ou dominadas, associando-as, obrigatoriamente ao elemento maligno do universo. Foram-lhes atribuidos vários adjectivos, sendo o mais comum o de feitiçaria, fazendo desaparecer o seu lado divino, sagrado e humano, para justificar a prática da escravatura, o trabalho forçado e a ocupação do continente2.
Como resultado, os africanos levantaram-se, buscando as energias espirituais dos seus antepassados na luta contra o colonialismo. Na 1ª fase, criaram as denominadas religiões sincréticas africanas, exemplos do Kimbanguismo e do Tocoismo no caso angolano.
1 Panteísmo: conjunto de religiões que aceitam que Deus é o próprio mundo. Tudo está interligado. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação e também é comum o culto aos antepassados.
2 ver Matthew Ashmolowo, op. Cit. 95-102. Apud Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos. Ano 3, nº 3, P 19, ed. H&I, 2011
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As Religiões Tradicionais Africanas: Situação Actual
“As religiões tradicionais Africanas estão presentes e estão representadas pelas várias correntes religiosas em todo continente, bem como em Angola. Continuam a guiar o simbólico espiritual do Homem Negro, embora, na maioria, continuem na clandestinidade”3.
As Religiões Tradicionais Africanas em Angola
As religiões tradicionais Africanas em Angola, a sua história não difere das outras áreas do continente africano.
Porém uma das igrejas tradicionais Angolanas é o candomblés que tem mais a sua expressão no Brasil, cujo seu Deus é denominado Nzambi (Zambi) ou Nzambi Mpungu (Zambiapongo) - O deus supremo e criador.
Acima de tudo está Nzambi Mpungu4 (um dos seus títulos) Deus criador de todas as coisas. Alguns povos bantu chamam Deus de Sukula outros de Kalunga5 e outros nomes ainda associam-se a estes.
O Culto a Nzambi não tem forma nem altar próprio. Só em situações extremas eles rezam e invocam Nzambi, geralmente fora das aldeias, em beira de rios, embaixo de árvores, ao redor de fogueiras. Não tem representação física, pois os Bantu o concebem como o incriado, o que representa-lo seria um sacrilégio, uma vez que Ele não tem forma.
No final de todo ritual Nzambi é louvado, pois Nzambi é o princípio e o fim de tudo.
Com a chegada dos europeus no continente particularmente em Angola, confrontou-se com a filosofia da tábua rasa, corrente filosófica que afirmava que os africanos em geral nada possuiam em termos de conhecimentos. Por isso, tudo devia ser-lhes implementado ou implanatado. A luta contra os invasores veio, porém, deitar abaixo esta teoria.
Aplicada compulsivamente, durante longos anos de ocupação colonial, aquela corrente filosófica contribuiu, contudo para que os Africanos abdicassem, em parte, dos seus conhecimentos de uma forma profunda no campo religioso, a favor das religiões universais que entraram no continente, no caso de Angola (Cristianismo/catolicismo).
3 Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos. Ano 3, nº 3, P 20, ed. H&I, 2011
4 Nzambi para os Bantu
5 Nzambi Deus supremo na mitologia Cokwe, Angola
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Assim os angolanos limitaram as suas práticas religiosas, dando lugar ao cristianismo que lhes fora implantado. Muitos numa primeira fase não aceitaram de mão beijada a interrupção e ou proibição na prática das suas religiões, obrigando assim os portugueses o uso da força para que os mesmos pudessem ser transformados católicos.
Este processo da conversão dos africanos em particular dos angolanos em católicos ou cristãos, tornou-se porque os portugueses baptizaram primeiramente os seus reis, sacerdotes, etc.
Em Angola existem muitas religiões tradicionais, mas estas continuam no anónimato porque ainda não reconhecidas.
Normalmente estas são praticadas por uma pequena parte da população, sobre tudo a população rural. Muitas das religiões tradicionais, não são reconhecidas em Angola por causa das suas práticas que muitas das vezes são tão duras e chegam mesmo a ferir sensibilidades.
Demografia Religiosa de Angola
O país tem uma área total de 1.246.700Km2 e a sua população é de aproximadamente 16 milhões. A maioria da população é cristã e desta, o maior grupo é o Católico Romano. A Igreja Católica calcula que 55% da população seja católica, mas isto não pôde ser verificado. Os dados do Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) indicam que as denominações cristãs africanas representam 25% da população; 10% da população segue as principais denominações protestantes como Metodista, Baptista, Congregacionalista (Igreja Unida de Cristo) e Assembleia de Deus; e 5% pertence a várias igrejas evangélicas brasileiras. Uma pequena parte da população rural pratica o animismo ou religiões tradicionais indígenas. Há também uma pequena comunidade islâmica, estimada em 80.000 a 90.000 fiéis, composta, sobretudo por imigrantes da África Ocidental e famílias de origem libanesa.
Influências das Religiões Tradicionais Africanas
Na realidade, ao contrário do que pensamos, as religiões tradicionais africanas ocupam um espaço maior na vida quotidiana dos africanos do que as grandes religiões já citadas anteriormente.
Por isso, elas continuarão a influenciar a vida do cidadão, pois representam a nossa identidade Angolana e, em geral africana.
Deste modo vimos que desde a era colonial, as religiões tradicionais tiveram um papel relevante para a afirmação da pessoa do africano e, influenciaram os africanos na luta da sua independência anteriormente roubada pelos europeus. Hoje estas religiões continuam a influenciar na vida quotidiana dos africanos zelando naquilo que é os ideiais dos antepassados africanos.
Conclusão
Em suma, as religiões tradicionais africanas estão presentes e estão representadas pelas várias correntes religiosas em todo o continente.
Por isso, elas continuarão a influenciar a vida do cidadão, pois, representam o ethos principal do africano.
Assim, tal como as línguas, as religiões tradicionais africanas reclamam o seu lugar na sociedade. Será necessário estudá-las, para despi-las de estereotipos com os quais foram revestidos pelos sistemas coloniais.
Bibliografia
Ø Instituto Nacional para os Assuntos religiosos, Religião e Sociedade, ed H&I, Luanda, 2011
Ø Instituto Nacional para os Assuntos religiosos, Fenómeno Religioso, ed H&I, Luanda, 2011
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